terça-feira, 21 de maio de 2013

O Dactylopius não é para todos


Números

Diz Raúl Benítez, director geral da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) para a América Latina e Caribe:
Cerca de 870 milhões de pessoas sofrem defome no mundo, embora haja mais oferta do que procura por alimentosIsso obedece à falta de acesso de sectores da população aos alimentos devido à falta de rendimentos para comprá-los.
Ou seja: não falta comida, simplesmente há pessoas que não têm dinheiro para compra-la.

Problema de sustentabilidade? Somos demasiados neste planeta? Nada disso: o problema é sempre o dinheiro.
Na verdade há mais oferta do que procura de comida: 
Apesar de existir um volume para alimentar toda a população mundial - cerca de 7.084 milhões de pessoas -, existem pelo menos 870 milhões que sofrem a fome.
Dinheiro e que mais? 
Pelo menos um terço das colheitas é perdido por causa do mau armazenamento. Há também problemas no âmbito dos transportes e, finalmente, há o desperdício nosso, daqueles que têm dinheiro para comprar comida mas cozinham demais. Tudo isto determina que 1.3 biliões de toneladas de comida seja perdida a cada ano. 

A crise de 2007 atingiu os mais pobres e se em alguns Países a situação tem melhorado, em outros piorou. Há uma redução de mais de 35% da fome em Mali, Camarões, Tailândia, Peru, Nicarágua, Brasil e Ásia. Mas na África Subsaariana o número de pessoas com fome subiu para 234 milhões, com um aumento de 64 milhões, e no Norte da África os desnutridos passaram de 22 para 41 milhões.

200 milhões de crianças com menos de 5 anos sofrem de desnutrição; e quase 7 milhões por ano morrem por falta de comida.

Enquanto isso, nós povos mais ricos temos problemas sérios.

Cor

Já beberam uma boa Caipiroska com sabor de morango? Um Campari? Um refrigerante avermelhado? Um iogurte? Ou talvez uma salsicha, um hamburger, um rebuçado, um gelado... então comeram um Dactylopius, umDactylopius coccus ou um Kermes vermilio. Que depois é um insecto, primo das joaninhas e dos pulgões.

É o simpático bichinho, um parasita, que confere aquele tom vermelho muito apreciado nas mesas.
Atrás da sigla E 120 encontramos ele, a cor carmin, amplamente utilizado na indústria dos alimentos por via do preço muito baixo.

Admitimos: a olho parece uma barata, não é que seja muito atractivo. Mas gostamos dele, uhi se gostamos!
É por isso que o bichinho é recolhido, depositado numa lâmina de metal, secado, triturado, diluído em água e, por fim, misturado com a comida. Em cuja embalagem aparecerá como "corante natural". E que seja natural não há dúvida: são necessários 100.000 insectos para obter um só litro de tinta.

O Leitor quer saborear um pouco de Dactylopius? Não há problema: entre num Starbucks e escolha algo vermelho. Ou compre o chocolate da Lindt, a versão Passion. Mas são muitos os produtos que trazem o E 120, é só escolher. E podem ficar descansados: a Food and Drug Administration aprova. Sim, houve casos de alergia, mas...olhem: azar.

Moral

Assim: quase 900 biliões de pessoas sem comida, 6.9 milhões de crianças que morrem por desnutrição a cada ano, e nós que esmagamos 100.000 insectos parecidos com as baratas para obter um litro de corante alimentar que tem apenas uma função estética.

Tudo normal, porque nem todos tem dinheiro suficiente para comer uma barata.


Ipse dixit. 

Fontes: Il Corriere della SeraPanoramaLa NaciónTrashfoodFAO: The State of Food Insecurity 2012 (link para download do documento)

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